segunda-feira, 23 de maio de 2011

Nobres Influências: Legião Urbana

Decidi postar sobre bandas que gosto, que já ouvi, que sempre ouço e/ou que estou ouvindo. Não poderia iniciar com outra banda senão a Legião Urbana. Como já mencionei quando postei sobre o filme de "faroeste caboclo", que está em produção, meu primeiro contato com a Legião foi com esta música, numa aula. Depois disso, meu walkman (hi-tech na época), só tocou rock, começando com as canções de Renato Russo.

A partir daí buscava sempre ouvir mais as músicas e os outros discos. Primeiro conseguí o "Que Pais é Este", que tinha "faroeste caboclo" e "que país é este". Logo conseguí o "As Quatro Estações" emprestado também. Gosto muito deste disco e é o meu preferido e não é à toa, muitas músicas deste disco são bem conhecida por todos, como "há tempos", "pais e filhos", "quando o sol bater na janela", "meninos e meninas"... Lembro também de quando conseguí o "Música para Acampamentos"... ouvia ele demais e todos que estavam à minha volta também! Ficava eu, Hideki e Ezra jogando no PC e essa coletânea rolando. Aos poucos fui conseguindo alguns discos, sempre emprestado e copiado, mas nunca um disco original. Daí, o primeiro cd que tive mesmo foi o "Mais do Mesmo", mas gostei muito do "Acústico MTV" que comprei. A arte do cd é maravilhosa, com fotos do acústico no encarte com acabamento em verniz... meus olhos brilhavam e, de tão "apegado", raramente emprestei. Era tanto capricho que, até quando quebrou um dos "dentes" que seguram o cd na capa - o que é comum, eu troquei toda capa de acrílico, por outra intacta de outro disco, de outra banda...
Quando mais jovem, "gritava" pra todos que era legionário. Hoje não ouço com a mesma frequência, mas nem por isso sou menos "legionário". Basta tocar uma música pra lembrar de muitas coisas. As lembranças geralmente trazem bons sentimentos. Com as composições da Legião Urbana é muito mais do que isso... é ouvir e sentir... raiva, decepção, solidão, revolta, tristeza, depressão, reflexão, amor, saudades, e que somos um grão de areia e tão jovens... A banda ainda me trouxe, diretamente ou indiretamente, vários amigos que sempre terei comigo... Nos tempos da AOL fiz várias amizades nas salas de bate-papo, especialmente sobre a Legião Urbana, que duram até hoje...

Após o falecimento de Renato Russo, em 11 de outubro de 1996, a Legião Urbana definitivamente encerrou suas apresentações. Há alguns anos, surgiram boatos que a banda voltaria. Acho que nem gostaria que voltasse mesmo, não seria a mesma coisa... o que rolou foi que o Dado e Bonfá se reuniram com outros músicos, fãs da Legião, inclusive de outros países latinos, para apresentações especiais e só pude ver mesmo no Altas Horas. Independente disso tudo, a Legião Urbana, recordista de vendas com os álbuns de "Que País é Este" e "Acústico MTV", vive até hoje, seja nas pessoas mais velhas que já acompanhavam, seja nos jovens, que passam a acompanhar. Uma prova disso é que há muito tempo fiquei surpreso que a Legião Urbana aparecia com destaque no site letras.mus.br. Há um bom tempo várias bandas e artistas surgiram e "já foram" e a Legião Urbana permanece lá, no top!!!

"Tempo perdido" @ Altas Horas

Discografia - Álbuns de estúdio

Legião Urbana (1985)

Janeiro de 1985 foi o mês do rock no Brasil. O mês do Rock in Rio. Pela televisão, a Legião Urbana via os amigos paralâmicos apresentarem “Química” para um público estimado em 200 mil pessoas, mais todos os milhões que assistiam aquilo em casa como eles. Naquele mesmo mês, a gravadora EMI Odeon lançava o álbum Legião Urbana, o primeiro da turma de Brasília e aquilo era só o começo. 

Atropelado pela ressaca Rock in Rio, o primeiro disco da Legião demorou a chegar aos ouvidos do grande público e a emplacar. Isso começou a virar em junho de 1985, quando “Será”, a primeira faixa do álbum, chegou às radios. Quem colocasse aquela bolachinha para tocar na vitrola, ouviria logo uma chamada na caixa da bateria e um riff direto de guitarra abrindo o disco. As linhas de cada instrumento eram simples e claras. A voz de Renato também já dizia a que vinha nos primeiros versos: “Tire suas mãos de mim/ eu não pertenço a você”. Era uma relação amorosa tensa, com um olhar de angústia e mais intimista do que o que existia até ali no rock brasileiro. Um sentimento extremamente pessoal, mas num discurso que o tornava coletivo e universal: “Nos perderemos entre monstros da nossa própria criação/ Serão noites inteiras/ Talvez por medo da escuridão/ Ficaremos acordados/ Imaginando alguma solução/ Pra que esse nosso egoísmo/ Não destrua o nosso coração”. Depois, o refrão com ares quase filosóficos: “Será só imaginação?/ será que nada vai acontecer?/ será que é tudo isso em vão?/ será que vamos conseguir vencer?”. Era uma letra angustiada e, ao mesmo tempo, esperançosa. Ficava fácil perceber que outros tempos se abriam no rock nacional. 

O disco seguia com letras fortes e postura punk. Não era o rock sorridente feito no Rio de Janeiro e que estava na moda. Era o outro lado de uma mesma moeda, sendo que esse era mais poético e vigoroso. Havia uma série de novas referências culturais que provocavam identificação imediata com aquela geração que crescera jogando “Space Invaders”. “Geração Coca-Cola” era outra, que de tão direta virou hino. Impacto imediato, com letra sem metáforas, recado direto e andamento acelerado. Ou seja, nada a ver com o que faziam os “grandes nomes” da música brasileira naquele momento. “É tudo velho… A gente quer fazer coisa nova”, dizia Renato Russo. E era isso que eles faziam. 

Faixas como “Ainda é cedo” e “Por enquanto” virariam standards da música brasileira, cruzando gêneros e vozes de forma a não deixar dúvidas sobre a força do repertório do primeiro álbum da Legião Urbana. Depois de 25 anos, já foram mais de 500 mil cópias vendidas, cerca de 100 mil só naquele primeiro ano. O terreno estava aberto para a história. 

Dois (1986)
Passados três anos sem material inédito, a Legião Urbana voltaria aos estúdios em agosto de 1993 para registrar um novo disco. Renato estava “limpo”. A nova fase em sua vida pessoal também coincidia com o fim da era Collor. Mais uma vez, o futuro brasileiro recomeçava. E como a esperança sempre foi uma arma da Legião, ela reaparecia neste trabalho, ainda que muitas vezes fosse mais propriamente um recurso de sobrevivência do que uma fonte espontânea de alegria. Mesmo quando cantava “Esperança, teus lençóis têm cheiro de doença”, percebe-se que ela seguia viva, ainda que infectada.

Como num movimento de resposta ao álbum anterior, O Descobrimento do Brasil trazia, em sua maioria, canções mais simples, com arranjos menos soturnos. Era um disco mais pop. Em alguns momentos, as guitarras voltavam a ter mais peso e as levadas da bateria eram mais aceleradas. Neste disco, o rock é mais elaborado do que o punk do primeiro LP e menos barroco do que os arranjos de “As Quatro Estações”.

O Descobrimento do Brasil foi o álbum em que a banda conseguiu chegar a um meio termo tanto musical quanto de discurso. Se os arranjos se alternavam das baladas e temas instrumentais ao hard rock, o mesmo se percebia nas letras que tratavam tanto das relações na esfera pública quanto na particular. Desde “Vamos celebrar a estupidez humana/ a estupidez de todas as nações/ o meu país e sua corja de assassinos/ covardes, estupradores e ladrões” até “E hoje em dia, como é que se diz eu te amo?”. Apesar dessas duas vertentes líricas aparecerem bem representadas no álbum, a partir de “As Quatro Estações” Renato demonstrava não ter mais dúvidas sobre em qual delas estava seu caminho. “O sistema é mau/ mas minha turma é legal” era a síntese do que ele buscava pra sua vida.

E mais uma vez,, ele se revelava por inteiro aos fãs através de suas palavras. Desde o fim abrupto da turnê de “V”, ele decidira se cuidar e tentar salvar o que ainda estava a seu alcance. A dependência química era exorcizada em faixas como “Vinte e nove “ e “Só por hoje”. Já o vírus HIV e a sombra da morte eram os nós contra o quais não havia cura. Só restava a resignação de “Love in the afternoon”.  Até mesmo os fins das relações pessoais já era visto com um pouco menos de inconformismo e mais serenidade, como em “Giz” e “Vamos fazer um filme”. Mas outras, como a revoltada “Do espírito”, mostram que nem só de serenidade poderia se ouvir um Renato Russo.

Que País É Este (1987)
Depois de um começo acelerado e gritado no primeiro disco e de um mergulho introspectivo em “Dois”, a energia em estado bruto de Que País É Este 1978/1987 fazia com que o terceiro álbum se parecesse mais com uma volta ao primeiro do que uma continuação do segundo. E isso era fácil de entender. A banda registrara algumas músicas da fase pré-Legião, da época do Aborto Elétrico e da carreira solo de Renato Russo como Trovador Solitário pela noite de Brasília. A verdade é que o álbum Que País É Este 1978/1987  não estava nos planos da Legião Urbana naquele momento. O nascimento do Capital Inicial, com os irmãos Lemos na formação – que tinham sido integrantes do Aborto Elétrico – precipitou a vontade de Renato Russo de registrar aquele repertório que, afinal, ele havia composto. E também servia para acabar com a farra de gravações piratas que algumas rádios colocavam no ar, com versões dessas músicas capturadas em shows da Legião. Mas uma vez lançado o álbum, isso se tornava algo menor e a música falava por si.

O país vivia um momento complexo. Era a dificuldade de estabilização política naqueles três primeiros anos sem governo militar – comprometidos no seu ideal pela morte de Tancredo Neves e da utopia que ele simbolizava –, o fracasso das duas encarnações do Plano Cruzado, o vazamento de Césio 137 em Goiânia, tudo isso em meio aos confusos trabalhos da Assembléia Constituinte. Naquele contexto, o riff de introdução da música que batizava o disco, sobre uma base musical reta e marcial, era tão agressiva e intensa como aqueles próprios dias. 

As Quatro Estações (1989)
As Quatro Estações foi lançado em novembro de 1989, dezesseis meses depois do início dos seus trabalhos e de um dos períodos mais difíceis e, ao mesmo tempo, criativos da Legião Urbana em estúdio. Passado aquele tempo, episódios como o show do Mané Garrincha, a saída de Renato Rocha, a morte de alguns amigos e o nascimento dos primeiros filhos, tinham expostos a banda a uma catarse de sentimentos e experiências que seriam decisivas no resultado daquele disco.

Uma série de canções de grande apelo popular, sem perder o rebuscamento lírico – que se mostrava ainda mais afiado – foi a marca do álbum. Algumas letras eram bastante enigmáticas, outras bem diretas. Um misto de mansidão, amorosidade e esperança, guiado por diversas citações religiosas, dava novas cores à obra da Legião. “Agora é espírito, é Deus, é amor”, disse Renato em uma entrevista às vésperas do lançamento do álbum, tentando explicar que, apesar das poucas mudanças no cenário nacional, os tempos que inspiraram “Que país é este” já tinham passado e que era preciso olhar para frente. “Tem que ter um caminho de iluminação em que você não se destrói”, ele diria meses depois, quando o disco já chegara às lojas.

Naquela época, faziam dois anos desde o lançamento do LP anterior. A ausência da banda no mercado fonográfico, somada à força do repertório apresentado, teve um efeito catalisador sobre as vendas. De cara, 450 mil cópias foram encomendadas antes mesmo do lançamento. Passado cerca de um ano do lançamento, com seis faixas já estouradas nas rádios do país, a marca superava a das 700 mil cópias vendidas. As Quatro Estações também foi o primeiro álbum da banda a ser lançado também no formato CD.

A banda agora era um trio. As dificuldades que isso trouxe nas gravações seriam redimidas pela presença de três novos músicos de apoio para a turnê do álbum, que viria a ser a maior já feita pela Legião Urbana.

V (1991)
V, grafado em algarismo romano, era o título do quinto álbum da Legião. O flerte que a banda, e especialmente Renato Russo, sempre teve com as estéticas medievais e do romantismo atingiam o ápice. As três primeiras faixas funcionavam realmente como uma introdução do disco. Primeiro, uma vinheta chamada “Love song” abria o álbum cantada em um português arcaico, com vozes dobradas e cobertas de ecos, remetendo a cantos gregorianos. Depois, a suíte em quatro partes, “Metal contra as nuvens”, na qual Renato se tornava o próprio cavaleiro medieval que enfrentava tempestades e dragões, para terminar esperançoso e redentor. A faixa contou com a participação de mais de 40 músicos e arranjo de cordas de Eduardo Souto Neto. A tal tríade da introdução era encerrada pelo tema instrumental “A Ordem dos Templários”.

A seguir, a lentidão proposital e quase lisérgica de “A montanha mágica” a deixava tão arrastada e densa quanto o livro original de Thomas Mann, da qual pegara o nome emprestado. O papel das drogas num mundo (e numa vida) tão cinza é talhado com precisão pela letra de Renato. Acentua-se o viés político neste disco, que já não é contestador e direto quanto outrora, mas, até por isso, parece ser mais cortante. A faixa seguinte, “O teatro dos vampiros”, é uma das obras que melhor define o auge da era Collor, o descrédito, a apatia e a instabilidade, que ainda viriam a ser chacoalhadas pela geração cara-pintada. 

Na parte final, o disco se voltava mais para a tensão nos relacionamentos pessoais. “Vento no litoral” era uma das músicas mais bonitas e tristes que a Legião já fizera e contava com a assinatura forte de Bonfá, que havia criado a centelha original da música. Muitas vezes era o baterista quem criava algumas das músicas mais lentas do grupo e Renato fazia graça disso: “O Bonfá faz essas coisas e quem fica com a fama de melancólico sou eu”. Apesar de não ser o responsável “original” pela tristeza de “Vento no litoral”, o vocalista andava profundamente atormentado pelo abreviamento da própria vida, desde que se descobriu, no fim de 1990, portador do vírus HIV. E a saída para tudo parecia estar na idealização de uma vida mais simples, em gestos menos pretensiosos. A faixa seguinte, “O mundo anda tão complicado”, também discorre sobre isso. Para a turnê, a banda preparou aquele que seria seu melhor e mais completo espetáculo. A situação crônica do país fez Renato incluir uma versão de “Carinhoso” nas apresentações, a qual apresentava como “o hino nacional brasileiro”. Mas a série de shows foi interrompida depois do concerto em Natal. Renato estava muito fragilizado emocionalmente e isso o tornava ainda mais propenso aos abusos de álcool e drogas. O que ele já cantara nas letras de V tomara formas ainda mais reais em sua vida e sua angústia só fazia aumentar. Após os incidentes na turnê, Renato iniciou um novo tratamento de desintoxicação junto a Alcóolicos Anônimos e isso se refletiria em sua vida e obra nos anos seguintes.

O Descobrimento do Brasil (1993)
Passados três anos sem material inédito, a Legião Urbana voltaria aos estúdios em agosto de 1993 para registrar um novo disco. Renato estava “limpo”. A nova fase em sua vida pessoal também coincidia com o fim da era Collor. Mais uma vez, o futuro brasileiro recomeçava. E como a esperança sempre foi uma arma da Legião, ela reaparecia neste trabalho, ainda que muitas vezes fosse mais propriamente um recurso de sobrevivência do que uma fonte espontânea de alegria. Mesmo quando cantava “Esperança, teus lençóis têm cheiro de doença”, percebe-se que ela seguia viva, ainda que infectada.

Como num movimento de resposta ao álbum anterior, O Descobrimento do Brasil trazia, em sua maioria, canções mais simples, com arranjos menos soturnos. Era um disco mais pop. Em alguns momentos, as guitarras voltavam a ter mais peso e as levadas da bateria eram mais aceleradas. Neste disco, o rock é mais elaborado do que o punk do primeiro LP e menos barroco do que os arranjos de “As Quatro Estações”.

O Descobrimento do Brasil foi o álbum em que a banda conseguiu chegar a um meio termo tanto musical quanto de discurso. Se os arranjos se alternavam das baladas e temas instrumentais ao hard rock, o mesmo se percebia nas letras que tratavam tanto das relações na esfera pública quanto na particular. Desde “Vamos celebrar a estupidez humana/ a estupidez de todas as nações/ o meu país e sua corja de assassinos/ covardes, estupradores e ladrões” até “E hoje em dia, como é que se diz eu te amo?”. Apesar dessas duas vertentes líricas aparecerem bem representadas no álbum, a partir de “As Quatro Estações” Renato demonstrava não ter mais dúvidas sobre em qual delas estava seu caminho. “O sistema é mau/ mas minha turma é legal” era a síntese do que ele buscava pra sua vida.

E mais uma vez,, ele se revelava por inteiro aos fãs através de suas palavras. Desde o fim abrupto da turnê de “V”, ele decidira se cuidar e tentar salvar o que ainda estava a seu alcance. A dependência química era exorcizada em faixas como “Vinte e nove “ e “Só por hoje”. Já o vírus HIV e a sombra da morte eram os nós contra o quais não havia cura. Só restava a resignação de “Love in the afternoon”.  Até mesmo os fins das relações pessoais já era visto com um pouco menos de inconformismo e mais serenidade, como em “Giz” e “Vamos fazer um filme”. Mas outras, como a revoltada “Do espírito”, mostram que nem só de serenidade poderia se ouvir um Renato Russo.

A Tempestade (1996)
Renato tinha lançado  “Equilíbrio Distante”, seu segundo álbum solo, em dezembro de 1995. No mês seguinte, a Legião Urbana voltava ao estúdio para o seu sétimo álbum de canções inéditas, oitavo na carreira. O tempo passava cada vez mais rápido para um artista tão criativo quanto ele. Renato tinha muito ainda o que dizer e criar.

Depois de um ano e meio parada, em função dos projetos solos de Renato, a banda voltou a se encontrar e com muito material inédito. Para “agravar” a situação, Renato ainda passou por um acesso criativo intenso durante o carnaval de 1996 e isso só fez aumentar a quantidade de peças à disposição na hora de montar o quebra-cabeça que se apresentava. Não havia dúvidas de que aquilo ali era material para, pelo menos, dois álbuns de inéditas. A ideia de um álbum duplo foi rejeitada e optou-se por lançá-los em separado. Em julho de 1996, chegou às lojas a primeira parte dessas canções, em um trabalho batizado de A Tempestade ou o Livro dos Dias. Gravado nos seis primeiros meses daquele ano, foi mais um período ardiloso para o trio. A fragilidade da saúde de Renato se agravara e ele passou pouco tempo com os parceiros no estúdio. Basicamente só apareceu para gravar as vozes e ainda assim era preciso ser objetivo. Renato estava debilitado e para quase todos os seus registros de voz valeram o primeiro take. A maior parte da produção ficou a cargo de Dado. Renato acompanhava a evolução das coisas pelas fitas que eram enviadas à sua casa.

Não era um disco fácil. Era mais rock do que os anteriores, mas as músicas eram, em sua maioria, lentas, carregadas pelos climas criados nos longos acordes sustentados nos teclados e sintetizadores de Carlos Trilha. As melodias de Renato eram complicadas e as letras já não encaixavam com tanta precisão na métrica das músicas. Além disso, eram letras densas, tristes, cujo grande grande tema era a solidão. Pela primeira vez, a esperança, sempre presente nos outros discos, oscilava.  Apesar de “A escuridão ainda é pior/ que essa luz cinza/ mas ainda estamos vivos” (de “Natália”), “Amanhã é outro dia/ Não é?” (de “A Via Láctea”) mostrava que Renato estava mais pessimista.

O avanço da doença acelerara muito naqueles últimos meses, aumentando o sofrimento de todos e tornando os trabalhos da Legião Urbana ainda mais difíceis. À época do lançamento do álbum, o grupo não deu entrevistas e nem promoveu nenhuma divulgação. Tampouco fizeram shows. Como que em resposta à queixa cantada na última faixa (“O livro dos dias”), cuja letra dizia: “meu coração não quer deixar meu corpo descansar”, logo o coração deixou. Renato morreu em 11 de outubro de 1996, menos de dois meses após o lançamento de A Tempestade ou o Livro dos Dias.

Uma Outra Estação (1997)
O último álbum de estúdio da Legião Urbana foi lançado em 1997, um ano após a morte de Renato Russo. Os registros eram a continuação do material que ficara de fora de “A Tempestade”.

Após o falecimento e a consequente publicação de tantas informações mantidas em sigilo por anos, a respeito da saúde de Renato, as letras daquela fase se tornaram mais explícitas e o tom de despedida era evidente. Apesar disso, Uma Outra Estação é um pouco mais leve do que o anterior. Enquanto “A Tempestade ou O Livro dos Dias” era uma espécie de “adeus”, Dado e Bonfá tentaram fazer de Uma Outra Estação um disco com ares de celebração à vida.

Para isso, as faixas de abertura e encerramento eram peças fundamentais. “Riding song” iniciava o disco com falas dos músicos no começo da carreira, nas quais eles se apresentavam e falavam de suas vidas e sonhos naquela época, Até Negrete reapareceu em voz e baixo. Na outra ponta, fechando o álbum, a “Travessia do Eixão”, música do grupo brasiliense Liga Tripa que dividira o palco com a Legião no primeiro show, em Patos de Minas, em 1982. O Liga Tripa era o grupo dos hippies que se davam bem com os punks. Naquele contexto, a canção clássica da adolescência da Turma da Colina atribuía um clima de volta para casa, de fechamento de ciclo a “Uma outra estação”. As vozes em coro, acompanhadas pelo arranjo acústico, de roda de acampamento, clima de turma de amigos, era o happy end possível e na medida.

No resto do disco, as últimas músicas que Renato compôs se encontravam com algumas velhas canções que nunca tinham tido vez no repertório da Legião. Na época das gravações, o vocalista já sabia de sua fragilidade física e por isso tentou deixar o máximo de músicas registradas. Com esse intuito, ele gravou “Dado viciado” e “Marcianos invadem a Terra”, músicas bem anteriores e conhecida pelos fãs mais dedicados. Ambas tinham um tom de saudosismo juvenil que contrastava com a gravidade dos momentos finais e até mesmo com a proporção que a Legião Urbana tinha tomado na vida do país.

Mas o disco ainda tinha canções duras como “Clarisse”, que Renato não aceitara lançar no álbum anterior por achá-la pesada demais em seus dez minutos contando a história de uma adolescente de 14 anos que tentava se matar. “La Maison Dieu” descrevia a aproximação da morte e seu nome era tirado de uma citação que se fazia na Idade Média a locais como hospitais, nos quais a morte e a transcendência se apresentavam aos enfermos. “Comédia romântica” traz uma levada folk, com inserções de guitarras fortes, mas que atribui leveza ao clima soturno que algumas outras faixas tinham. “Antes das seis” era uma balada ingênua conduzida por uma harmonia pop de violão e um fraseado simples de guitarra. Era também uma outra canção mais leve, que emendava em “Mariane”, a única faixa que não foi gravada na ocasião. Ela foi recuperada de um take feito nos estúdios da EMI na década de 80.

A ausência de Renato está expressa definitivamente em “Sagrado coração”. A música é singela e a letra, disponível no encarte, é triste. Para esta canção, Renato não deixou registro de voz.

Após este disco, algumas coletâneas e alguns projetos especiais ainda seriam lançados, mas com Uma Outra Estação a banda encerra sua obra autoral.

Discografia - Álbuns ao vivo e Coletâneas

Música para Acampamentos (1992) (coletânea de gravações ao vivo com algumas canções inéditas)
Após a interrupção da turnê de “V”, a banda entrou em recesso. Não havia material novo a ser trabalhado, quando Renato Russo teve a ideia de fazer um disco ao vivo e duplo. A intenção era que fosse um álbum diferente das tradicionais compilações do mercado fonográfico e, por isso, o grupo buscou faixas gravadas nas mais diversas situações, como programas de TV, de rádio, de épocas diferentes, de condições e equipamentos variados, de compositores diferentes… Pegaram e misturaram tudo isso com alguns registros de shows da banda.

Afora algumas faixas gravadas acústicas para o especial, o disco não tinha nenhum ar de “acampamento”. Muito pelo contrário. O nome foi tirado de um desenho que Bonfá fez que Renato viu e gostou. Disso surgiu o conceito que, depois de lançado, pareceu amarrar bem o que era o álbum.

Mais do Mesmo (1998) (coletânea)
Mais do Mesmo seria, em princípio, o titulo do disco que acabou sendo lançado dez anos atrás o titulo de Que Pais é Este 1978/1987. Se aquele era uma espécie de autobiografia precoce, no bom sentido, poético, este Mais do Mesmo que você tem nas mãos é a autobiografia sem adjetivo, no bom sentido, histórico. Autobiografia até porque as 16 faixas do CD foram selecionadas por Dado Villa-Lobos (guitarra) e Marcelo Bonfá (bateria), os dois legionários urbanos sobreviventes a Renato Russo (voz e baixo), morto em 11 de outubro de 1996, Parece um disco perfeitamente coerente e não uma mera coletânea: a Legião Urbana sempre fez todo o sentido do mundo.

São três faixas do primeiro CD, o politizado Legião Urbana, de 1985: “Será”, “Ainda é cedo”, “Geração Coca-Cola”. São três faixas do segundo, o amoroso Dois, de 1986: “Eduardo e Monica”, “Tempo perdido” e “Índios”. São duas faixas do irado Que Pais É Este 1978/1987: a própria e “Faroeste Caboclo (até aqui o baixista era Renato Rocha). São três faixas do religioso As Quatro Estações, de 1989: “Há tempos”, “Pais e filhos” e “Meninos e Meninas”. E uma faixa do sombrio V, de 1991: “Vento no Litoral”. Duas do reflexivo O Descobrimento do Brasil, de 1993: “Perfeição” e “Giz”. Uma do deprimido A Tempestade, de 1996: “Dezesseis”. E uma do redentor Uma Outra Estação: “Antes das seis”.

Dezesseis faixas de discos politizados, amorosos, irados, religiosos, sombrios, reflexivos, deprimidos, redimidos, discos que configuram quase um evangelho, por mais que Renato Russo, a certa altura da vida renegasse qualquer messianismo.

Nenhuma das faixas exige maiores floreios de apresentação. Elas estão aí, como se aí estivessem desde sempre, são musicas incorporadas ao inconsciente coletivo, dessas que a gente cantarola sem nem saber por quê – são clássicos.

E os clássicos são clássicos porque sempre devem ser ouvidos, revistos e relidos.

Acústico MTV Legião Urbana (1999) (gravado ao vivo em 1992)
No início de 1992 resolvemos que, em vez de produzirmos um “videoclip” para o lançamento do disco “V”, iríamos aceitar o  convite da MTV para a gravação do então “novo programa” acústico. – Jóia! Não temos que fazer clip!

Ouvia-se em coro, o que definitivamente se transformou em mais um estimulante desafio. Pensávamos em imagem, um mega videoclip se estentendo por mais de uma hora no ar, suprindo, assim, nossa dificuldade em cumprir as obrigações em relação à promoção de nosso trabalhão.

Naquele momento, a marca “Acústico” estampada na capa de um disco não tinha o “sentido” que tem hoje, não cogitávamos a possibilidade de se transformar o programa de televisao em disco.

Felizmente não perdemos a oportunidade de registrar na íntegra o áudio da apresentação, o que nos traz de volta a Legião Urbana interpretando ao vivo. Espontânea e surpreendentemente à vontade, nossas inesquecíveis canções e também inéditas versões com apenas dois violões, bateria, percussão e uma grande e inigualável voz.
(Dado Villa-Lobos, 1999)

Como É que Se Diz Eu Te Amo (2001) (gravado ao vivo em 1994 na turnê de "O Descobrimento do Brasil")
Gravado ao vivo, no Metropolitan (RJ), nos dias 08 e 09 de outubro de 1994, durante a turnê do álbum “O Descobrimento do Brasil”.

Produzido por Rafael Borges, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá


As Quatro Estações ao Vivo (2004) (gravado ao vivo em 1990 na turnê de "As Quatro Estações")
Gravado em 10 e 11 de agosto de 1990, exceto "Se fiquei esperando meu amor passar", gravado no Mineirinho (Belo Horizonte - MG), em agosto de 1990.




Legião Urbana e Paralamas Juntos (2009) (gravado ao vivo em 1988)
Gravado em 03 de setembro de 1988.
Produzido por: Carlos Alberto Sion
Direção: Jodele Larcher
Direção Geral: Roberto Talma
Realização Central Globo de Produção



Perfil (2011) (coletânea)

Renato Russo - Uma Celebração (2011) (coletânea)

Discografia retirado de www.legiaourbana.com.br (site oficial)

Em 2010 foi lançado ainda uma edição especial com os oito discos da Legião Urbana, em CD e LP, que podem ser comprados em avulso ou no box... mas meu sonho mesmo sempre foi a edição especial em box de lata "Por Enquanto"... sonho de consumo mesmo!

Urbana Legio Omnia Vincit!!!